terça-feira, 28 de janeiro de 2014

>> fotografias

Para grande infelicidade minha, nunca tive grande jeito para a fotografia.

Lembro-me de em pequena ver o meu pai carregar para todo o lado a sua Olympus. Modelo xpto, com a bolsa profissional, as lentes diversas e o flash, que na altura se comprava separadamente e se encaixava no corpo maquina. O kit completo dos longínquos anos oitenta.
Tenho desses anos, as melhores fotografias da minha infância, às quais se seguiu um gap de reportórios fotográficos, que só retomou quando eu própria me apercebi que já conseguiria carregar no botão de uma máquina fotográfica automática.- How hard could it be?

Comecei cedo, e ao longo da minha vida tive várias máquinas. Analógicas, de rolo comprido, de rolo normal, com zoom, sem zoom, com isto, sem aquilo, a certa altura, fruto do devaneio que talvez tivesse algum jeito para a coisa, cheguei a investir numa das grandes e cromas, que me custou um pequeno balúrdio e que mal a soube aproveitar. Depois vieram as digitais (algum juízo e ponderação) e ainda assim, mais umas quantas máquinas na minha bagagem. Muitas máquinas, jeito pouco (ou nenhum).

De qualquer das forma, e provavelmente devido ao facto de ter uma memória fotográfica bastante desenvolvida, tenho recordações fotográficas de todos os grandes momentos da minha vida. Podem não ser as melhores, nem as mais profissionais, mas estão lá.
Sou a chata que tira fotos, que melga ou amigos para que enviem as que eles têm, que organiza tudo por pastas e que não se rala de ver as mesmas fotos mais de dez vezes. Para mim são vivências da vida que ficam para sempre na minha recordação, que me relembram o quão maravilhosos foram esses momentos e como tenho sido feliz e abençoada ao longo da minha vida. As pessoas, os sítios, a intensidade com que foram vividas as coisas. Na maior parte das vezes fica lá tudo... e se não ficar, a memória dá um empurrão.

O ano passado a minha máquina fotográfica, ainda que caquéctica, morreu. A pasta de fotos no meu computador referente ao ano de 2013 têm 5 ou 6 sub-pastas em vez de 20 ou 30. Todos os momentos importantes passaram a ser registados através da câmara do meu blackberry, de qualidade altamente duvidosa. Foi um ano triste para a minha fotografia pessoal.

Desde que comecei o blog que tenho em mente ilustrar através de fotos, e fazer ver aos que estão mais longe, aquilo que me rodeia. Como também não sou grande pisco na escrita, parecia-me ser o que fazia mais sentido.  Não o tenho feito porque os momentos de frustração com o telemóvel fizeram-me desistir do plano rapidamente. Isso, juntamente com o facto de querer juntar novas memórias desta nova fase da minha vida, tem me deixado deprimida.

Comprar uma máquina decente continua na minha wishlist. Pode ser que entretanto inventem uma que venha já com jeito pessoal do fotografo incluído. Mas enquanto a coisa vai e não vai, o destino deu uma ajuda. O pequeno blackberry morreu para a vida sem aviso prévio e perante tal emergência  fui presenteada com um novo smarphone. Renasci para a vida ao ver a diferença de qualidade quando comparado ao anterior.
Sim, não é uma maquina fotográfica, mas com certeza que me vai ajudar e fazer magia. Ou pelo menos eu farei o meu melhor.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

>> #1

Bem, cá vamos.

Antes de mais é importante esclarecer que as pessoas emigram por diferentes motivos.

Eu não vim para a Holanda por passar qualquer tipo de necessidade. Estava empregada, morava no centro de Lisboa, tinha um salário que apesar de se manifestar curto no ultimo par de anos, ainda dava. Não para o estilo que gostaria de ter e que tive um dia, mas dava. Dava pouco, dava cada vez menos, mas ia dando. 
Vim para cá porque quis continuar a investir em mim, porque queria o estilo de vida que tanto estudei e trabalhei para conquistar e que me foi sendo roubado com o passar dos anos. Vim porque sentia que tinha mais valor do que me davam e queria um oportunidade para o demonstrar. Queria continuar a crescer. Queria fazê-lo num sitio em que tal fosse possível, de forma justa e adequada, em que me pagassem proporcionalmente ao trabalho que desenvolvo e com condições de vida que me permitissem viver a minha ainda tenra (cof cof) juventude. Vim porque queria conseguir poupar uns trocos ao final do mês, jantar um par de vezes fora sem fazer contas à vida, e não tremer com suores só porque é Julho e tenho que pagar o seguro do carro (até porque agora ando de bicicleta, e essa não paga seguro ou imposto). 
Vim também por amor e pela ideia de uma vida a dois mais desafogada e livre, pela possibilidade de poder criar uma família com as condições certas (ainda que não ideais) num futuro próximo, se assim me apetecer. Vim pela aventura e pelo alargar dos horizontes, por querer trabalhar em ambientes multi-culturais e socializar com pessoas de culturas diferentes. 
Vim porque sabia que não ia encontrar uma solução fácil para o que queria da vida, e teria de ser eu própria a lutar por ela. E por mim. E vim porque me apercebi que infelizmente não podia ter tudo e que para o o obter, teria que deixar para trás tantas outras coisas que amava.
Por ultimo, confesso que também vim porque perdi um pouco da fé que tinha no nosso país e toda a fé que alguma vez pude ter naqueles que o gerem.

Emigrar por necessidade é toda uma outra história, sobre a qual não me permito sequer a opinar. Não sei fazê-lo, nunca passei por tal. Em vez de dizer baboseiras, prefiro estar calada. São situações que vejo como situações- limite e em que cada um toma as decisões que tiver de tomar para as resolver ou lhes por termino.

A primeira opção, não deixa de ser isso  mesmo, Uma opção. E é para esses que falo. Os que querem porque sim, e não porque têm que ser ou têm bocas para alimentar.

Nós optámos por vir para a Holanda por uma série de motivos. Um dos principais porque já tínhamos amigos por cá.
Depois porque pensamos e estudamos mercados e foi o que nos fez sentido. Para que as escolham não sejam feitas à t, ficam alguns facts and figures.

# Alguns números:


Salário Mínimo - em vigor a partir de Janeiro de 2014, para trabalhadores com mais de 23 anos e em full time.


• € 1.485,65 buto por mês

• € 342,85 bruto por semana

• € 68,57 bruto por dia


(Valores mensais sem subsidio de férias. Os valores líquidos não estão estipulados por lei, depende de uma serie de tributações, no entanto e apenas para ter uma ideia o salário mínimo liquido mensal, este rondará os 1000 euros, ou muito muito perto disso)

Taxa de desemprego - 8,5% em Dezembro de 2013. Já esteve pior em Julho do mesmo ano, mas cresceu mais de dois pontos percentuais só de Julho de 2012 até agora. O país também está em crise. Muito muito diferente da nossa noção de crise, mas também está.

Taxa de desemprego jovem- 11.30% em Dezembro 2013

População- 16,7 Milhões. Num paísinho pequeno. Muito pequeno. Mais pequeno que o nosso. Quase 3,5 milhões são expatriados ou imigrantes.

A emigração não é para toda a gente. E não tem mal nenhum nisso. Há pessoas com maior ou menor capacidade de adaptação, de espírito de aventura, de espírito de sacrifício, que são mais ligados à cultura, ao dia-a-dia a que desde sempre estão habituados. Por isso é preciso ser uma decisão pensada e repensada. Vai ter sempre um grande factor de risco, mas convém que seja um risco controlado. Virem para cá e estarem infelizes e miseráveis não vale a pena. A vida de emigrante às vezes pode ser ingrata, por isso é preciso ter o querer,  e a vontade, e certeza que é esse o passo que se quer tomar. E estar pronto para enfrentar o que daí vem...

Se for esse o caso... boa sorte! 
No meu caso, já valeu mais que a pena.

>> flores


Agora que moro no país das tulipas é quase obrigatório te-las ca em casa, a alegrar-me a alma.

>> #0

Finalmente e após muita luta, arranjei trabalho. Yay!!! Festa! Tragam o champanhe e o fogo de artificio que agora sim é tempo de celebração. Mission accomplished.

Arranjar trabalho na Holanda não é propriamente pêra doce. Cheguei forte e cheia de energia positiva, a pensar que podia conquistar o mundo em menos de três tempos. Eu conseguir conquistá-lo consigo, demorou foi mais tempo do que previa, o que requer muita paciência e perseverança.
Arranjar trabalho por cá depende de muita coisa, como tudo na vida. E cada caso não é mais que isso mesmo, um caso.
Depende das áreas, das qualificações de cada um, das competêcias, dos anos de experiência, da idade, de expectativas, da sazonalidade...e mais que tudo depende de timmings e um pouquinho de sorte. Eu pessoalmente nunca tive o cu virado para a lua, e portanto enquanto conheço gente que demorou um, dois meses (ou até menos) para arranjar trabalho, para mim foram quase quatro. Quatro longos e cansativos meses de trabalho intenso e luta na minha única ocupação e tarefa diária a que me dediquei sem baixar os braços.

Ultimamente algumas pessoas me têm pedido ajuda e orientação nesta grande aventura que é vir viver para cá e procurar trabalho. Parece-me que infelizmente e dada a conjuntura do nosso país, que é algo que vai continuar a acontecer e os pedidos vão continuar a cair na minha mailbox. Por isso aqui vai, na minha ultima semana de dona de casa desesperada, uma série de posts que vou compilar de emails já enviados e que servem apenas de alguma orientação a quem tenha questões sobre como vir para cá, e se vale ou não a pena o investimento.

Não passa da minha opinião pessoal, baseado na minha experiência e dos que me rodeiam. Não sou nenhuma expert no assunto, por isso o que aqui ficar escrito, vale o que vale.
E claro que sim, é um assunto que dá pano para mangas.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

>> um abrir e fechar de olhos

Para mim não foi mais que isso, e entretanto já passaram dois meses desde o ultimo post.

Dois meses, duas viagens a Portugal com excesso de peso no regresso. Uma perda dolorosa. Duas mil e cinquenta entrevistas, o meu primeiro Sinterklaas, um Twijnstraat Kerstmarket (Christmas Market), os passeios numa Utrecht iluminada. Uma falha nova numa sobrancelha, muitos abraços regados a vinho tinto, conhecer o meu mais novo sobrinho-nenuco. Um Natal cheio de bacalhau, sonhos, rabanadas e peru. Um novo Ano que começou. Uma passagem de ano à holandesa e à altura. O arremessar do meu primeiro fogo de artificio, uma ida aos bunkers de Bunnik, uma ida à praia de Secheveningen, o primeiro vislumbre do mar do norte. Mais duas mil e quinhentas entrevistas. Jantares com novos amigos, e velhos amigos, jantares em Portugal e na Holanda. A primeira vez que experimentei os Poffterjes, a segunda vez que os comi, e ainda uma terceira. Dois ou três mini-tralhos de bicicleta. Duas ou três molhas, um telemóvel avariado, uma nova conta bancária. Um trabalho novo.

Foram dois meses de emoções fortes. E agora estou de volta.