terça-feira, 21 de outubro de 2014

>> estes sete meses

Este blog viveu seis meses. Seis míseros  meses até que eu o começasse a ignorar por completo e para que deixasse de ter paciencia para aqui dar os ares da minha graça. A objectivo de usá-lo para contar aos amigos e família as histórias e aventuras da nossa descoberta pela Holanda, claramente falhou. Mais um fail cibernético da minha pessoa.

Passaram mais sete entretanto. Sete meses das nossas vidas, nao tao aventurosos como imaginavámos com concerteza cheios de descobertas.

Tivemos visitas da minha mae, dos pais dele, do gang dos quarto amigos, da irma dele e do namorado dela. Fomos a Keukenhof ver as tulipas, fomos a Bunnik comer panquecas. Descobrimos Utrecht, a cidade que é agora ainda mais nossa e apaixonámo-nos mais um bocadinho por ela. E também a odiámos de vez em quando. Aproveitámos feriados e escapámos ao frio na Páscoa - rumámos escondidos ao Algarve. Regressámos a tempo para experienciarmos o que é ser Holandes no dia do rei. Pusemos uma peruca e um chapeu, laranja claro.

Eu voltei a Londres mais vinte vezes. Ele foi ao Brazil, a Bilbau, e a Barcelona. Juntos fomos descobrir Budapeste, que adorámos. Fomos por la brindados com uma vaga de calor.  Vivemos o mundial de futebol como expatriados e vibrámos com os nossos novos compinchas de diferentes nacionalidades durante um mes de emoçoes fortes. Comecei a beber Chardonnay, já nao aguentava cerveja. Voltámos a Lisboa em Junho para brincar aos Santos Populares, os nossos favoritos. De novo onda de calor - 40 graus em Lisboa foi bom, tinhamos saudades de andar de mota. De volta ä Holanda, fomos ä praia e demos mergulhos no mar do norte. É meio verde e menos salgado. No querido mes de Agosto voltamos a patria, também fomos ao sul para as nossas férias de verao. Onda de calor mais uma vez, nao faz mal, dá-nos jeito mais vitamina D. Conhecemos finalmente as fofas das nossas sobrinhas mais novas e demos abraços apertados de saudades a amigos que também embarcaram na aventura da emigraçao e que partiram para o outro lado do mundo.

Voltámos ä Holanda a tempo do outono, apesar do verao nunca ter chegado. Fomos ao concerto de Seu Jorge numa tarde de domingo, e ao de Buraka numa noite de quarta.  Fomos ver o nosso Sporting a jogar contra o Utrecht. Fez-nos falta beber uma sagres na roulote. Celebrámos o meu aniversário com amigos num passeio de barco pelos canais de Utrecht. Fizeram-me um bolinho de iogurte decorado com pintarolas e cantaram-me os parabéns. Inscrevi-me finalmente no yoga e fiz um par de aulas. Comemos comida etiope com as maos e gostámos.

Visitámos amigos em Amsterdam e em Haia várias vezes. Fomos a feirinhas e mercados. E a mini feiras populares muito tipícas por cá. Fizemos churrascos junto ao canal em dias quentes, e namoramos em casa em dias molhadosde verao. Experimentámos vários restaurantes e percebemos que em 90% das vezes mais vale jantar em casa. Comecámos a ter a noçao que o nosso portugues começa a derrapar. Celebrámos mais um aniversário nosso juntos, e no mes passado o nosso primeiro ano na Holanda.

Aterrar em Schipol passou a ser chegar a casa. A tempestade Gonzalo chegou cá hoje. Tenho frio, venta que se farta e chove. Ele foi ver o jogo do Sporting a Gelsenkirchen.

Tenho saudades de Lisboa.

quinta-feira, 20 de março de 2014

>> 30

Sabes que a rápida aproximação a uma nova década te está mais que estampada na cara quando, numa breve pausa para um cigarro, um dos estagiários do departamento (com os seus vinte e poucos) te pergunta o que é que estudaste quando eras nova.

Oh God...

sexta-feira, 7 de março de 2014

>> sol

Dias solarengos e temperaturas que sobem aos 19 graus? De-za-no-ve! Em Março? Na Holanda? 
Talvez esteja a ultrapassar os limites que me separam da insanidade total, mas confesso que lá no fundo me questiono se será caso de tirar o biquíni do armário e ir apanhar sol para o parque.
A sério que a minha excitação é tanta que já não faço mais nada de produtivo o resto do dia...

A todos vocês meus amigos, um bom (e quentinho) fim de semana!


quinta-feira, 6 de março de 2014

>> azar

Depois de tanto tempo a morrer de saudades da minha maezinha, a contar os dias para a sua primeira visita, a fazer planos para os míseros dois dias e meio em que posso distrutar da sua companhia em terras holandesas, este mundo cruel em que vivemos dá um toque de magia podre e faz com que eu saiba, apenas uma semana antes do acontecimento, que tenho de ir a Londres em trabalho exactamente nas datas em que ela cá vai estar.

É preciso ter muito azar...
Vou chorar. Bah

domingo, 23 de fevereiro de 2014

>> lusitanos

No sábado passado esteve um dia solarengo (apesar de muito ventoso), com temperaturas a rondar os 10 graus, o que é considerado um luxo, e por isso decidimos ir almoçar a Amesterdão. A ideia era ir conhecer o clube recreativo Os Lusitanos, e deliciarmo-nos com uns petiscos portugueses. 
Os Lusitanos ficam localizados numa zona muito in de Amesterdão chamada de Pijp, pertinho do canal Amstel e seus barcos casa ma-ra-vi-lho-sos, mas ao contrário do bairro onde se situa, de in não têm absolutamente nada e é como fazer uma visita ao nosso Portugal profundo.

Segundo o seu site, o Grupo Desportivo e Recreativo "Os Lusitanos" abriu portas e 1968 e tem como objectivo representar os Portugueses e suas famílias, que vivem Amesterdão. É uma associação de voluntários que organiza actividades de âmbito recreativo, desportivo, social e educacional, de acordo com as necessidades dos seus membros. Oferece a qualquer Português a oportunidade de desfrutar da sua própria cultura impedindo assim o isolamento social, mas oferece também apoio na integração na sociedade holandesa, através de aulas de língua holandesa, sessões de informação e ao disponibilizar frequentemente boletins de informação. Actualmente conta com 500 sócios (pagos), a maioria de nacionalidade Portuguesa.

Ao passar no numero 177 da rua Govert Flinkstraat, praticamente não damos por ele. Portões verdes, discretos, não fosse um casal idoso claramente português já à espera do abrir portas para a sua bica domingueira, talvez lhe tivéssemos passado ao lado.




Lá dentro, bandeiras de Portugal, algumas referências clubísticas, a Sport TV ligada, alguns provérbios populares nas paredes, publicidade aos petiscos caseiros e serve-se ao balcão a segurar um cigarro entre dentes. Vai enchendo, de malta mais velha, um atrás do outro, com os seus baralhos de cartas, prontos para uma tarde bem passada entre amigos. Grita-se porque querem ver as notícias, lê-se a Maria, só se fala em Português.

Infelizmente fizemos mal o trabalho de casa e não sabíamos que Os Lusitanos só abriam portas ás 13h. Para almoçar "só bitoques ou bifanas", os petiscos são mais à hora de jantar e especialmente em dias de jogo. Pasteis de Nata? "Veio cá à pouco uma senhora que levou toda a encomenda". Não faz mal, come-se um pãozinho com manteiga, bebe-se umas sagres, pede-se um jarrinho de barro com vinho tinto, uns bitoques e para terminar uma bica. E saboreia-se ao nosso redor o saborzinho ao nosso Portugal.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

>> muisjes

A semana passada nasceu um bebé no escritório. Não é que tenha nascido literalmente no escritório, até porque isso era capaz de ser um bocado chato, mas nasceu algures nos arredores, o rebento de um colega que lá trabalha.
Cá, o nascimento de um bebé tem por regra ser celebrado com Muisjes. E o que são Muisjes, perguntam vocês? Os muisjes fazem parte da família do hagelslag, provavelmente o hábito alimentar mais estranho (para não lhe chamar idiota) de que já tive conhecimento por estas bandas.
Ahhh também não sabem o que é hagelslag? Mil desculpas, passo a explicar.
Hagelslag são aquelas pequenas pepitas de chocolate ou coloridas que usamos em Portugal para enfeitar bolos. É uma coisa que sempre foi tão inútil no meu quotidiano que tão pouco sei o nome que lhes hei de dar em português. Sprinkles em inglês, será que ajuda?

Ora, o povo holandês tem uma grande pancada com o todo e qualquer tipo de hagelslag. Gostam muito de barrar uma fatia de pão de forma com manteiga, colocar uma quantidade industrial de hagelslag por cima (embora não me tenha dado ao trabalho de procurar na internet, tenho cá para mim que os de chocolate sao os vencedores), e comer essa sua "sandes" ao pequeno almoco ou ao almoco, como prato principal. Um delícia para miúdos e graúdos. Nutritivo, saudável, bastante prático.. um verdadeiro manjar dos deuses.

Quando nasce um bebé holandês, os pais babados celebram com os amigos e colegas o nascimento da cria, oferecendo-lhes muisjes. Normalmente em forma de bolinha (branco e cor de rosa para as meninas, branco e azul para os meninos), e com o particular sabor a anis (blargh), os muisjes são colocados carinhosamente sobre uma espécie de biscoito holandês (imaginem uma torradinha redonda que já foi mais que torrada e esturricada e é agora vendida em embalagens no supermercado), previamente barrada com uma pequena camadinha de manteiga.


Hummm... que coisinha tãooooo apetitosa.

P.s- as minhas desculpas pelo kiwi, está claramente um pouco fora de contexto.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

>> #2

Em continuação dos posts sobre trabalhar na Holanda...
Em primeiro lugar, para que tenham noção da minha realidade e dos que que me rodeiam: 
Faixa etária entre os 25 e os 32 anos, licenciados (alguns pós-graduados, mestrados, etc), entre 3 e 8 anos de experiência profissional nas áreas de formação (maioritariamente marketing, comunicação, sector financeiro, engenharias, gestão, hotelaria e vendas), fluentes em mais que uma língua, com e sem alguma experiência profissional anterior e muito espírito de sacrifício.
Sei que é um perfil bastante específico, mas muito longe desta realidade já não é bem a minha praia.
Alguns perguntam se vale ou não a pena, arriscar e vir para cá sem trabalho, ou se a melhor solução é procurar trabalho desde Portugal.
Claro que é mais fácil arranjar trabalho estando cá, até porque para as empresas o processo de recrutamento é muito menos moroso e muito mais simplificado se o recurso humano já cá estiver. Uma morada e numero de telemóvel Holandês num cv fazem milagres. No entanto, enquanto se toma a decisão e não toma (o que requer alguma organização e investimento financeiro - não esquecer que podemos estar a falar de uns meses sem estar a ganhar, num país com custo de vida mais caro que em Portugal), aconselho claro, a procurar trabalho e enviar cvs desde a nave-mãe. Foi o que fiz, e cheguei a iniciar alguns processos via skype.
A parte positiva de ser recrutado desde Portugal (além de já vir descansadinho e com muito menos pressão e stress), embora seja muito mais difícil de o conseguir, é que existe um benefício fiscal na Holanda para expatriados. Quer isto dizer que se fores trabalhador qualificado e com alguns requisitos obrigatórios (ver na net), e se conseguires ser contratado ainda no país de origem, podes candidatar-te ao chamado 30% ruling. Basicamente este benefício permite que o expatriado só desconte sobre 70% do seu salário anual, ou seja, ganha-se mais em salário net e desce-se de escalão do irs, acabando por ser uma diferença significativa.
No entanto não é garantido, não vale a pena contar com o ovo no cu da galinha. O certo é que conheço bem mais gente sem o 30% ruling, do que com. Dá algum trabalho, as empresas não estão para isso, e o governo já começa a colocar alguns entraves, dada as altas percentagens de imigração por cá. De qualquer forma existe, acontece e é sempre um push de motivação.
Caso não se encontre antes e se tenha a certeza que este é o passo que querem dar, é vir na mesma.
Por cá há trabalho, e bastante abertura a pessoas de outros países. Certo, pode demorar, ser frustrante e cansativo, e sim... também há crise, mas bem diferente da Portuguesa. O mais difícil é começar. O primeiro trabalho. Quem chega não tem experiência no mercado, em muitas empresas também querem que saibamos falar holandês, uma língua impossível de apreender em meia dúzia de meses (se não falam Inglês então, não vale a pena sequer virem), não temos contactos no país (ou temos poucos), andamos ainda um pouco à descoberta. 
É difícil sim, é preciso enviar muito cv, ir a muita entrevista, e nunca, nunca desmoralizar. A partir desse primeiro trabalho, parece-me mais fácil a movimentação. Portanto, mesmo que o primeiro trabalho não seja o trabalho de sonho, é o primeiro e abre muitas portas. Não se preocupem com o facto de ter uns quantos meses em branco sem referência profissional no vosso cv. Eles cá não ligam a isso, e não há nenhum estigma nesse sentido. Aceitam bem que as pessoas façam escolhas diferentes e que aproveitem determinadas alturas da vida para fazer algo fora do comum ou ter uma experiência que não seja a ordem profissional a que estamos habituados.
Agora, se não tem um pezinho de meia para se aguentarem uns tempos (pelo menos para 3 ou 4 meses), então cuidado. Não se arranjam facilmente "trabalhinhos" a lavar pratos ou a servir às mesas para desenrascar (a não ser que já conheçam alguém na área que vos de uma ajuda). Geralmente tudo o que é café, restaurante, loja, ou qualquer tipo de estabelecimento que pressuponha contacto com o cliente/consumidor, não vos vai contratar se não souberem falar holandês.  Afinal, esta ainda é a terra deles (apesar da constante invasão).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

>> tempo

Ao que parece estamos com uma sorte dum filha da mãe. 

O passado mês de Janeiro foi o mais quente mês de Janeiro desde mil oitocentos e troca o passo (acho que foi dia dez que a temperatura chegou aos 14,5º graus, um feito incrível para estas bandas), ainda não nevou (apesar de já ter caído bastante calhau), e apesar de se sentir frio, muito frio, ainda só senti um par de vezes aquele frio insuportável para que vim mentalizada. Aquele que corta a cara como se fossem mil e uma faquinhas pequeninas a rasgarem-te a pele. Esse frio não é fixe. Principalmente quando se anda diariamente de bicicleta.
O nosso primeiro inverno tem sido, (até ver, porque sei bem que vou ser castigada por isto), melhor do que estávamos à espera.  Os dias cinzentões e depressivos tão típicos de cá, têm sido substituídos nos últimos tempos por maravilhosos dias de sol. Yay! 
Venha a vitamina D, que os dias com sol são sempre tão melhores que os outros.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

>> alice

Hoje acordei pouco depois das seis da manhã com a maravilhosa noticia que a minha "sobrinha" Alice tinha nascido. Desde que chegamos, há menos de 5 meses já nasceu o Duarte e agora a Alice. Numa questão de um ou dois dias vai nascer também a Rosinha.
Hoje demorei uma hora e meia a voltar a adormecer. Fiquei feliz e ansiosa porque assim, com o acordar de um novo dia, todo o nosso pequeno mundo tinha mudado. A Alice tinha chegado. Fiquei especada e enternecida a olhar para a fotografia que me enviaram e a contemplar o quanto é linda e perfeita, a tentar descobrir-lhe as feições. Tal como fiz com o Duarte há três meses atrás. Dois sobrinhos lindos que foram contra as possibilidades do universo e ao contrário do esperado não nasceram com carinha de ratinhos. You Rock kids!!!

Depois fiquei um bocadinho triste. Porque os queria ver, agarrá-los e espremê-los hoje e quando me desse na real gana e vou ter que esperar para o fazer. Porque queria dar um abração aos pais e brindar com eles à nova fase da vida, e isso também não dá. Porque queria fazer as piadas cliché do cócó e da hora da mama, enquanto observava silenciosamente as suas novas posturas de pais babados e também não posso. E porque sei que por muito que eu e os que lá estão, sejamos presentes e façamos questão de manter as nossas vidas como se não tivéssemos uns tantos milhares de kms entre nós, embora façamos confidencias diárias e participemos virtualmente na vida quotidiana de cada um, que saibamos que pelo menos no nosso caso, longe da vista não significa longe do coração, lá no fundo eu sei que há momentos, tantos lindos e maravilhosos momentos na vida da Alice, do Duarte, da Rosa, da Inês, do Diogo, e das Marias que eu não vou acompanhar. Em que eu não vou estar.
E isso, lá no fundo doí como o caraças.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

>> fotografias

Para grande infelicidade minha, nunca tive grande jeito para a fotografia.

Lembro-me de em pequena ver o meu pai carregar para todo o lado a sua Olympus. Modelo xpto, com a bolsa profissional, as lentes diversas e o flash, que na altura se comprava separadamente e se encaixava no corpo maquina. O kit completo dos longínquos anos oitenta.
Tenho desses anos, as melhores fotografias da minha infância, às quais se seguiu um gap de reportórios fotográficos, que só retomou quando eu própria me apercebi que já conseguiria carregar no botão de uma máquina fotográfica automática.- How hard could it be?

Comecei cedo, e ao longo da minha vida tive várias máquinas. Analógicas, de rolo comprido, de rolo normal, com zoom, sem zoom, com isto, sem aquilo, a certa altura, fruto do devaneio que talvez tivesse algum jeito para a coisa, cheguei a investir numa das grandes e cromas, que me custou um pequeno balúrdio e que mal a soube aproveitar. Depois vieram as digitais (algum juízo e ponderação) e ainda assim, mais umas quantas máquinas na minha bagagem. Muitas máquinas, jeito pouco (ou nenhum).

De qualquer das forma, e provavelmente devido ao facto de ter uma memória fotográfica bastante desenvolvida, tenho recordações fotográficas de todos os grandes momentos da minha vida. Podem não ser as melhores, nem as mais profissionais, mas estão lá.
Sou a chata que tira fotos, que melga ou amigos para que enviem as que eles têm, que organiza tudo por pastas e que não se rala de ver as mesmas fotos mais de dez vezes. Para mim são vivências da vida que ficam para sempre na minha recordação, que me relembram o quão maravilhosos foram esses momentos e como tenho sido feliz e abençoada ao longo da minha vida. As pessoas, os sítios, a intensidade com que foram vividas as coisas. Na maior parte das vezes fica lá tudo... e se não ficar, a memória dá um empurrão.

O ano passado a minha máquina fotográfica, ainda que caquéctica, morreu. A pasta de fotos no meu computador referente ao ano de 2013 têm 5 ou 6 sub-pastas em vez de 20 ou 30. Todos os momentos importantes passaram a ser registados através da câmara do meu blackberry, de qualidade altamente duvidosa. Foi um ano triste para a minha fotografia pessoal.

Desde que comecei o blog que tenho em mente ilustrar através de fotos, e fazer ver aos que estão mais longe, aquilo que me rodeia. Como também não sou grande pisco na escrita, parecia-me ser o que fazia mais sentido.  Não o tenho feito porque os momentos de frustração com o telemóvel fizeram-me desistir do plano rapidamente. Isso, juntamente com o facto de querer juntar novas memórias desta nova fase da minha vida, tem me deixado deprimida.

Comprar uma máquina decente continua na minha wishlist. Pode ser que entretanto inventem uma que venha já com jeito pessoal do fotografo incluído. Mas enquanto a coisa vai e não vai, o destino deu uma ajuda. O pequeno blackberry morreu para a vida sem aviso prévio e perante tal emergência  fui presenteada com um novo smarphone. Renasci para a vida ao ver a diferença de qualidade quando comparado ao anterior.
Sim, não é uma maquina fotográfica, mas com certeza que me vai ajudar e fazer magia. Ou pelo menos eu farei o meu melhor.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

>> #1

Bem, cá vamos.

Antes de mais é importante esclarecer que as pessoas emigram por diferentes motivos.

Eu não vim para a Holanda por passar qualquer tipo de necessidade. Estava empregada, morava no centro de Lisboa, tinha um salário que apesar de se manifestar curto no ultimo par de anos, ainda dava. Não para o estilo que gostaria de ter e que tive um dia, mas dava. Dava pouco, dava cada vez menos, mas ia dando. 
Vim para cá porque quis continuar a investir em mim, porque queria o estilo de vida que tanto estudei e trabalhei para conquistar e que me foi sendo roubado com o passar dos anos. Vim porque sentia que tinha mais valor do que me davam e queria um oportunidade para o demonstrar. Queria continuar a crescer. Queria fazê-lo num sitio em que tal fosse possível, de forma justa e adequada, em que me pagassem proporcionalmente ao trabalho que desenvolvo e com condições de vida que me permitissem viver a minha ainda tenra (cof cof) juventude. Vim porque queria conseguir poupar uns trocos ao final do mês, jantar um par de vezes fora sem fazer contas à vida, e não tremer com suores só porque é Julho e tenho que pagar o seguro do carro (até porque agora ando de bicicleta, e essa não paga seguro ou imposto). 
Vim também por amor e pela ideia de uma vida a dois mais desafogada e livre, pela possibilidade de poder criar uma família com as condições certas (ainda que não ideais) num futuro próximo, se assim me apetecer. Vim pela aventura e pelo alargar dos horizontes, por querer trabalhar em ambientes multi-culturais e socializar com pessoas de culturas diferentes. 
Vim porque sabia que não ia encontrar uma solução fácil para o que queria da vida, e teria de ser eu própria a lutar por ela. E por mim. E vim porque me apercebi que infelizmente não podia ter tudo e que para o o obter, teria que deixar para trás tantas outras coisas que amava.
Por ultimo, confesso que também vim porque perdi um pouco da fé que tinha no nosso país e toda a fé que alguma vez pude ter naqueles que o gerem.

Emigrar por necessidade é toda uma outra história, sobre a qual não me permito sequer a opinar. Não sei fazê-lo, nunca passei por tal. Em vez de dizer baboseiras, prefiro estar calada. São situações que vejo como situações- limite e em que cada um toma as decisões que tiver de tomar para as resolver ou lhes por termino.

A primeira opção, não deixa de ser isso  mesmo, Uma opção. E é para esses que falo. Os que querem porque sim, e não porque têm que ser ou têm bocas para alimentar.

Nós optámos por vir para a Holanda por uma série de motivos. Um dos principais porque já tínhamos amigos por cá.
Depois porque pensamos e estudamos mercados e foi o que nos fez sentido. Para que as escolham não sejam feitas à t, ficam alguns facts and figures.

# Alguns números:


Salário Mínimo - em vigor a partir de Janeiro de 2014, para trabalhadores com mais de 23 anos e em full time.


• € 1.485,65 buto por mês

• € 342,85 bruto por semana

• € 68,57 bruto por dia


(Valores mensais sem subsidio de férias. Os valores líquidos não estão estipulados por lei, depende de uma serie de tributações, no entanto e apenas para ter uma ideia o salário mínimo liquido mensal, este rondará os 1000 euros, ou muito muito perto disso)

Taxa de desemprego - 8,5% em Dezembro de 2013. Já esteve pior em Julho do mesmo ano, mas cresceu mais de dois pontos percentuais só de Julho de 2012 até agora. O país também está em crise. Muito muito diferente da nossa noção de crise, mas também está.

Taxa de desemprego jovem- 11.30% em Dezembro 2013

População- 16,7 Milhões. Num paísinho pequeno. Muito pequeno. Mais pequeno que o nosso. Quase 3,5 milhões são expatriados ou imigrantes.

A emigração não é para toda a gente. E não tem mal nenhum nisso. Há pessoas com maior ou menor capacidade de adaptação, de espírito de aventura, de espírito de sacrifício, que são mais ligados à cultura, ao dia-a-dia a que desde sempre estão habituados. Por isso é preciso ser uma decisão pensada e repensada. Vai ter sempre um grande factor de risco, mas convém que seja um risco controlado. Virem para cá e estarem infelizes e miseráveis não vale a pena. A vida de emigrante às vezes pode ser ingrata, por isso é preciso ter o querer,  e a vontade, e certeza que é esse o passo que se quer tomar. E estar pronto para enfrentar o que daí vem...

Se for esse o caso... boa sorte! 
No meu caso, já valeu mais que a pena.

>> flores


Agora que moro no país das tulipas é quase obrigatório te-las ca em casa, a alegrar-me a alma.

>> #0

Finalmente e após muita luta, arranjei trabalho. Yay!!! Festa! Tragam o champanhe e o fogo de artificio que agora sim é tempo de celebração. Mission accomplished.

Arranjar trabalho na Holanda não é propriamente pêra doce. Cheguei forte e cheia de energia positiva, a pensar que podia conquistar o mundo em menos de três tempos. Eu conseguir conquistá-lo consigo, demorou foi mais tempo do que previa, o que requer muita paciência e perseverança.
Arranjar trabalho por cá depende de muita coisa, como tudo na vida. E cada caso não é mais que isso mesmo, um caso.
Depende das áreas, das qualificações de cada um, das competêcias, dos anos de experiência, da idade, de expectativas, da sazonalidade...e mais que tudo depende de timmings e um pouquinho de sorte. Eu pessoalmente nunca tive o cu virado para a lua, e portanto enquanto conheço gente que demorou um, dois meses (ou até menos) para arranjar trabalho, para mim foram quase quatro. Quatro longos e cansativos meses de trabalho intenso e luta na minha única ocupação e tarefa diária a que me dediquei sem baixar os braços.

Ultimamente algumas pessoas me têm pedido ajuda e orientação nesta grande aventura que é vir viver para cá e procurar trabalho. Parece-me que infelizmente e dada a conjuntura do nosso país, que é algo que vai continuar a acontecer e os pedidos vão continuar a cair na minha mailbox. Por isso aqui vai, na minha ultima semana de dona de casa desesperada, uma série de posts que vou compilar de emails já enviados e que servem apenas de alguma orientação a quem tenha questões sobre como vir para cá, e se vale ou não a pena o investimento.

Não passa da minha opinião pessoal, baseado na minha experiência e dos que me rodeiam. Não sou nenhuma expert no assunto, por isso o que aqui ficar escrito, vale o que vale.
E claro que sim, é um assunto que dá pano para mangas.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

>> um abrir e fechar de olhos

Para mim não foi mais que isso, e entretanto já passaram dois meses desde o ultimo post.

Dois meses, duas viagens a Portugal com excesso de peso no regresso. Uma perda dolorosa. Duas mil e cinquenta entrevistas, o meu primeiro Sinterklaas, um Twijnstraat Kerstmarket (Christmas Market), os passeios numa Utrecht iluminada. Uma falha nova numa sobrancelha, muitos abraços regados a vinho tinto, conhecer o meu mais novo sobrinho-nenuco. Um Natal cheio de bacalhau, sonhos, rabanadas e peru. Um novo Ano que começou. Uma passagem de ano à holandesa e à altura. O arremessar do meu primeiro fogo de artificio, uma ida aos bunkers de Bunnik, uma ida à praia de Secheveningen, o primeiro vislumbre do mar do norte. Mais duas mil e quinhentas entrevistas. Jantares com novos amigos, e velhos amigos, jantares em Portugal e na Holanda. A primeira vez que experimentei os Poffterjes, a segunda vez que os comi, e ainda uma terceira. Dois ou três mini-tralhos de bicicleta. Duas ou três molhas, um telemóvel avariado, uma nova conta bancária. Um trabalho novo.

Foram dois meses de emoções fortes. E agora estou de volta.