domingo, 23 de fevereiro de 2014

>> lusitanos

No sábado passado esteve um dia solarengo (apesar de muito ventoso), com temperaturas a rondar os 10 graus, o que é considerado um luxo, e por isso decidimos ir almoçar a Amesterdão. A ideia era ir conhecer o clube recreativo Os Lusitanos, e deliciarmo-nos com uns petiscos portugueses. 
Os Lusitanos ficam localizados numa zona muito in de Amesterdão chamada de Pijp, pertinho do canal Amstel e seus barcos casa ma-ra-vi-lho-sos, mas ao contrário do bairro onde se situa, de in não têm absolutamente nada e é como fazer uma visita ao nosso Portugal profundo.

Segundo o seu site, o Grupo Desportivo e Recreativo "Os Lusitanos" abriu portas e 1968 e tem como objectivo representar os Portugueses e suas famílias, que vivem Amesterdão. É uma associação de voluntários que organiza actividades de âmbito recreativo, desportivo, social e educacional, de acordo com as necessidades dos seus membros. Oferece a qualquer Português a oportunidade de desfrutar da sua própria cultura impedindo assim o isolamento social, mas oferece também apoio na integração na sociedade holandesa, através de aulas de língua holandesa, sessões de informação e ao disponibilizar frequentemente boletins de informação. Actualmente conta com 500 sócios (pagos), a maioria de nacionalidade Portuguesa.

Ao passar no numero 177 da rua Govert Flinkstraat, praticamente não damos por ele. Portões verdes, discretos, não fosse um casal idoso claramente português já à espera do abrir portas para a sua bica domingueira, talvez lhe tivéssemos passado ao lado.




Lá dentro, bandeiras de Portugal, algumas referências clubísticas, a Sport TV ligada, alguns provérbios populares nas paredes, publicidade aos petiscos caseiros e serve-se ao balcão a segurar um cigarro entre dentes. Vai enchendo, de malta mais velha, um atrás do outro, com os seus baralhos de cartas, prontos para uma tarde bem passada entre amigos. Grita-se porque querem ver as notícias, lê-se a Maria, só se fala em Português.

Infelizmente fizemos mal o trabalho de casa e não sabíamos que Os Lusitanos só abriam portas ás 13h. Para almoçar "só bitoques ou bifanas", os petiscos são mais à hora de jantar e especialmente em dias de jogo. Pasteis de Nata? "Veio cá à pouco uma senhora que levou toda a encomenda". Não faz mal, come-se um pãozinho com manteiga, bebe-se umas sagres, pede-se um jarrinho de barro com vinho tinto, uns bitoques e para terminar uma bica. E saboreia-se ao nosso redor o saborzinho ao nosso Portugal.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

>> muisjes

A semana passada nasceu um bebé no escritório. Não é que tenha nascido literalmente no escritório, até porque isso era capaz de ser um bocado chato, mas nasceu algures nos arredores, o rebento de um colega que lá trabalha.
Cá, o nascimento de um bebé tem por regra ser celebrado com Muisjes. E o que são Muisjes, perguntam vocês? Os muisjes fazem parte da família do hagelslag, provavelmente o hábito alimentar mais estranho (para não lhe chamar idiota) de que já tive conhecimento por estas bandas.
Ahhh também não sabem o que é hagelslag? Mil desculpas, passo a explicar.
Hagelslag são aquelas pequenas pepitas de chocolate ou coloridas que usamos em Portugal para enfeitar bolos. É uma coisa que sempre foi tão inútil no meu quotidiano que tão pouco sei o nome que lhes hei de dar em português. Sprinkles em inglês, será que ajuda?

Ora, o povo holandês tem uma grande pancada com o todo e qualquer tipo de hagelslag. Gostam muito de barrar uma fatia de pão de forma com manteiga, colocar uma quantidade industrial de hagelslag por cima (embora não me tenha dado ao trabalho de procurar na internet, tenho cá para mim que os de chocolate sao os vencedores), e comer essa sua "sandes" ao pequeno almoco ou ao almoco, como prato principal. Um delícia para miúdos e graúdos. Nutritivo, saudável, bastante prático.. um verdadeiro manjar dos deuses.

Quando nasce um bebé holandês, os pais babados celebram com os amigos e colegas o nascimento da cria, oferecendo-lhes muisjes. Normalmente em forma de bolinha (branco e cor de rosa para as meninas, branco e azul para os meninos), e com o particular sabor a anis (blargh), os muisjes são colocados carinhosamente sobre uma espécie de biscoito holandês (imaginem uma torradinha redonda que já foi mais que torrada e esturricada e é agora vendida em embalagens no supermercado), previamente barrada com uma pequena camadinha de manteiga.


Hummm... que coisinha tãooooo apetitosa.

P.s- as minhas desculpas pelo kiwi, está claramente um pouco fora de contexto.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

>> #2

Em continuação dos posts sobre trabalhar na Holanda...
Em primeiro lugar, para que tenham noção da minha realidade e dos que que me rodeiam: 
Faixa etária entre os 25 e os 32 anos, licenciados (alguns pós-graduados, mestrados, etc), entre 3 e 8 anos de experiência profissional nas áreas de formação (maioritariamente marketing, comunicação, sector financeiro, engenharias, gestão, hotelaria e vendas), fluentes em mais que uma língua, com e sem alguma experiência profissional anterior e muito espírito de sacrifício.
Sei que é um perfil bastante específico, mas muito longe desta realidade já não é bem a minha praia.
Alguns perguntam se vale ou não a pena, arriscar e vir para cá sem trabalho, ou se a melhor solução é procurar trabalho desde Portugal.
Claro que é mais fácil arranjar trabalho estando cá, até porque para as empresas o processo de recrutamento é muito menos moroso e muito mais simplificado se o recurso humano já cá estiver. Uma morada e numero de telemóvel Holandês num cv fazem milagres. No entanto, enquanto se toma a decisão e não toma (o que requer alguma organização e investimento financeiro - não esquecer que podemos estar a falar de uns meses sem estar a ganhar, num país com custo de vida mais caro que em Portugal), aconselho claro, a procurar trabalho e enviar cvs desde a nave-mãe. Foi o que fiz, e cheguei a iniciar alguns processos via skype.
A parte positiva de ser recrutado desde Portugal (além de já vir descansadinho e com muito menos pressão e stress), embora seja muito mais difícil de o conseguir, é que existe um benefício fiscal na Holanda para expatriados. Quer isto dizer que se fores trabalhador qualificado e com alguns requisitos obrigatórios (ver na net), e se conseguires ser contratado ainda no país de origem, podes candidatar-te ao chamado 30% ruling. Basicamente este benefício permite que o expatriado só desconte sobre 70% do seu salário anual, ou seja, ganha-se mais em salário net e desce-se de escalão do irs, acabando por ser uma diferença significativa.
No entanto não é garantido, não vale a pena contar com o ovo no cu da galinha. O certo é que conheço bem mais gente sem o 30% ruling, do que com. Dá algum trabalho, as empresas não estão para isso, e o governo já começa a colocar alguns entraves, dada as altas percentagens de imigração por cá. De qualquer forma existe, acontece e é sempre um push de motivação.
Caso não se encontre antes e se tenha a certeza que este é o passo que querem dar, é vir na mesma.
Por cá há trabalho, e bastante abertura a pessoas de outros países. Certo, pode demorar, ser frustrante e cansativo, e sim... também há crise, mas bem diferente da Portuguesa. O mais difícil é começar. O primeiro trabalho. Quem chega não tem experiência no mercado, em muitas empresas também querem que saibamos falar holandês, uma língua impossível de apreender em meia dúzia de meses (se não falam Inglês então, não vale a pena sequer virem), não temos contactos no país (ou temos poucos), andamos ainda um pouco à descoberta. 
É difícil sim, é preciso enviar muito cv, ir a muita entrevista, e nunca, nunca desmoralizar. A partir desse primeiro trabalho, parece-me mais fácil a movimentação. Portanto, mesmo que o primeiro trabalho não seja o trabalho de sonho, é o primeiro e abre muitas portas. Não se preocupem com o facto de ter uns quantos meses em branco sem referência profissional no vosso cv. Eles cá não ligam a isso, e não há nenhum estigma nesse sentido. Aceitam bem que as pessoas façam escolhas diferentes e que aproveitem determinadas alturas da vida para fazer algo fora do comum ou ter uma experiência que não seja a ordem profissional a que estamos habituados.
Agora, se não tem um pezinho de meia para se aguentarem uns tempos (pelo menos para 3 ou 4 meses), então cuidado. Não se arranjam facilmente "trabalhinhos" a lavar pratos ou a servir às mesas para desenrascar (a não ser que já conheçam alguém na área que vos de uma ajuda). Geralmente tudo o que é café, restaurante, loja, ou qualquer tipo de estabelecimento que pressuponha contacto com o cliente/consumidor, não vos vai contratar se não souberem falar holandês.  Afinal, esta ainda é a terra deles (apesar da constante invasão).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

>> tempo

Ao que parece estamos com uma sorte dum filha da mãe. 

O passado mês de Janeiro foi o mais quente mês de Janeiro desde mil oitocentos e troca o passo (acho que foi dia dez que a temperatura chegou aos 14,5º graus, um feito incrível para estas bandas), ainda não nevou (apesar de já ter caído bastante calhau), e apesar de se sentir frio, muito frio, ainda só senti um par de vezes aquele frio insuportável para que vim mentalizada. Aquele que corta a cara como se fossem mil e uma faquinhas pequeninas a rasgarem-te a pele. Esse frio não é fixe. Principalmente quando se anda diariamente de bicicleta.
O nosso primeiro inverno tem sido, (até ver, porque sei bem que vou ser castigada por isto), melhor do que estávamos à espera.  Os dias cinzentões e depressivos tão típicos de cá, têm sido substituídos nos últimos tempos por maravilhosos dias de sol. Yay! 
Venha a vitamina D, que os dias com sol são sempre tão melhores que os outros.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

>> alice

Hoje acordei pouco depois das seis da manhã com a maravilhosa noticia que a minha "sobrinha" Alice tinha nascido. Desde que chegamos, há menos de 5 meses já nasceu o Duarte e agora a Alice. Numa questão de um ou dois dias vai nascer também a Rosinha.
Hoje demorei uma hora e meia a voltar a adormecer. Fiquei feliz e ansiosa porque assim, com o acordar de um novo dia, todo o nosso pequeno mundo tinha mudado. A Alice tinha chegado. Fiquei especada e enternecida a olhar para a fotografia que me enviaram e a contemplar o quanto é linda e perfeita, a tentar descobrir-lhe as feições. Tal como fiz com o Duarte há três meses atrás. Dois sobrinhos lindos que foram contra as possibilidades do universo e ao contrário do esperado não nasceram com carinha de ratinhos. You Rock kids!!!

Depois fiquei um bocadinho triste. Porque os queria ver, agarrá-los e espremê-los hoje e quando me desse na real gana e vou ter que esperar para o fazer. Porque queria dar um abração aos pais e brindar com eles à nova fase da vida, e isso também não dá. Porque queria fazer as piadas cliché do cócó e da hora da mama, enquanto observava silenciosamente as suas novas posturas de pais babados e também não posso. E porque sei que por muito que eu e os que lá estão, sejamos presentes e façamos questão de manter as nossas vidas como se não tivéssemos uns tantos milhares de kms entre nós, embora façamos confidencias diárias e participemos virtualmente na vida quotidiana de cada um, que saibamos que pelo menos no nosso caso, longe da vista não significa longe do coração, lá no fundo eu sei que há momentos, tantos lindos e maravilhosos momentos na vida da Alice, do Duarte, da Rosa, da Inês, do Diogo, e das Marias que eu não vou acompanhar. Em que eu não vou estar.
E isso, lá no fundo doí como o caraças.