segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

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Em continuação dos posts sobre trabalhar na Holanda...
Em primeiro lugar, para que tenham noção da minha realidade e dos que que me rodeiam: 
Faixa etária entre os 25 e os 32 anos, licenciados (alguns pós-graduados, mestrados, etc), entre 3 e 8 anos de experiência profissional nas áreas de formação (maioritariamente marketing, comunicação, sector financeiro, engenharias, gestão, hotelaria e vendas), fluentes em mais que uma língua, com e sem alguma experiência profissional anterior e muito espírito de sacrifício.
Sei que é um perfil bastante específico, mas muito longe desta realidade já não é bem a minha praia.
Alguns perguntam se vale ou não a pena, arriscar e vir para cá sem trabalho, ou se a melhor solução é procurar trabalho desde Portugal.
Claro que é mais fácil arranjar trabalho estando cá, até porque para as empresas o processo de recrutamento é muito menos moroso e muito mais simplificado se o recurso humano já cá estiver. Uma morada e numero de telemóvel Holandês num cv fazem milagres. No entanto, enquanto se toma a decisão e não toma (o que requer alguma organização e investimento financeiro - não esquecer que podemos estar a falar de uns meses sem estar a ganhar, num país com custo de vida mais caro que em Portugal), aconselho claro, a procurar trabalho e enviar cvs desde a nave-mãe. Foi o que fiz, e cheguei a iniciar alguns processos via skype.
A parte positiva de ser recrutado desde Portugal (além de já vir descansadinho e com muito menos pressão e stress), embora seja muito mais difícil de o conseguir, é que existe um benefício fiscal na Holanda para expatriados. Quer isto dizer que se fores trabalhador qualificado e com alguns requisitos obrigatórios (ver na net), e se conseguires ser contratado ainda no país de origem, podes candidatar-te ao chamado 30% ruling. Basicamente este benefício permite que o expatriado só desconte sobre 70% do seu salário anual, ou seja, ganha-se mais em salário net e desce-se de escalão do irs, acabando por ser uma diferença significativa.
No entanto não é garantido, não vale a pena contar com o ovo no cu da galinha. O certo é que conheço bem mais gente sem o 30% ruling, do que com. Dá algum trabalho, as empresas não estão para isso, e o governo já começa a colocar alguns entraves, dada as altas percentagens de imigração por cá. De qualquer forma existe, acontece e é sempre um push de motivação.
Caso não se encontre antes e se tenha a certeza que este é o passo que querem dar, é vir na mesma.
Por cá há trabalho, e bastante abertura a pessoas de outros países. Certo, pode demorar, ser frustrante e cansativo, e sim... também há crise, mas bem diferente da Portuguesa. O mais difícil é começar. O primeiro trabalho. Quem chega não tem experiência no mercado, em muitas empresas também querem que saibamos falar holandês, uma língua impossível de apreender em meia dúzia de meses (se não falam Inglês então, não vale a pena sequer virem), não temos contactos no país (ou temos poucos), andamos ainda um pouco à descoberta. 
É difícil sim, é preciso enviar muito cv, ir a muita entrevista, e nunca, nunca desmoralizar. A partir desse primeiro trabalho, parece-me mais fácil a movimentação. Portanto, mesmo que o primeiro trabalho não seja o trabalho de sonho, é o primeiro e abre muitas portas. Não se preocupem com o facto de ter uns quantos meses em branco sem referência profissional no vosso cv. Eles cá não ligam a isso, e não há nenhum estigma nesse sentido. Aceitam bem que as pessoas façam escolhas diferentes e que aproveitem determinadas alturas da vida para fazer algo fora do comum ou ter uma experiência que não seja a ordem profissional a que estamos habituados.
Agora, se não tem um pezinho de meia para se aguentarem uns tempos (pelo menos para 3 ou 4 meses), então cuidado. Não se arranjam facilmente "trabalhinhos" a lavar pratos ou a servir às mesas para desenrascar (a não ser que já conheçam alguém na área que vos de uma ajuda). Geralmente tudo o que é café, restaurante, loja, ou qualquer tipo de estabelecimento que pressuponha contacto com o cliente/consumidor, não vos vai contratar se não souberem falar holandês.  Afinal, esta ainda é a terra deles (apesar da constante invasão).

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